Foto: Eliete Marques/G1 |
Após a morte de um paciente, o diretor clinico do Hospital Regional
(HR) de Ariquemes (RO), o médico Antonio Nóbel Aires Moura, criticou a
precariedade da unidade de saúde em uma rede social. De acordo com o
médico, a falta de uma equipe médica especializada, associada à falta de
equipamentos, pode ter contribuído para a morte do paciente Clair
Marques, de 38 anos, que sofreu um acidente no dia 24 de outubro, foi
atendido no HR, mas morreu vítima de hemorragia enquanto aguardava
transferência para Porto Velho. No texto publicado, o médico, que é
irmão do governador Confúcio Moura, estendeu as críticas ao estado.
"Quem, podendo ter filé, prefere carne de segunda, acaba tendo um
Governo da Cooperação do Diabo", diz trecho da publicação, em referência
ao slogan do governo do estado (Governo da Cooperação).
Ao G1, o médico diz ter feito a declaração na rede
social por ter ficado revoltado com a situação do paciente Clair, que
deveria passar por uma cirurgia de emergência para fixar o quadril, após
um acidente de moto. No entanto, segundo Moura, o HR não dispôs de
equipe de médicos especializados, muito menos de material, se fazendo
necessária a transferência do paciente para Porto Velho.
O G1 entrou em contato com a assessoria do governador
por diversas vezes desde a terça-feira (5) para comentar as declarações
do irmão. No entanto, não houve retorno às solicitações.
“Este tipo de cirurgia tem que ser feita aqui em Ariquemes,
pois remover uma paciente é uma situação complexa, onde o doente tem
que estar estabilizado para poder viajar. Este hospital tem que ter
recursos para atender os pacientes aqui, pois isso aumenta as chances de
vida das pessoas. Por isso, acredito que aquilo HR nem é um hospital,
e sim um posto de saúde centralizado”, enfatiza.
De acordo com o médico, a situação do HR é precária, visto que a
estrutura é antiga e já passou por diversas reformas paliativas. Além
disso, ressalta a falta de especialistas, como neurologista,
radiologista e neonatologista. Apesar das criticas, Moura salienta que a
unidade conta com bons médicos.
“Não da mais pra fazer reformas; a solução é construir um novo
hospital. Precisamos dar condições de trabalho aos médicos que lá
trabalham e ampliar a equipe de profissionais. As pessoas precisam saber
desta situação, pois, ao sofrer um acidente, o primeiro lugar a ser
levado é para o hospital público”, explica. Sobre as críticas ao governo
do irmão, Confúcio Moura, o médico diz que, apesar da boa relação
famíliar, eles "discordam nas decisões políticas".
Já a secretária municipal de Saúde, Regina dos Santos, explica que o
paciente Clair foi atendido por uma equipe médica completa, mas que a
unidade não realiza procedimentos de alta complexidade. “O hospital é de
média complexidade, e temos limitações. Utilizamos todos os recursos
para atender o paciente, mas o caso dele era grave e precisou ser
encaminhado para a capital”, ressalta.
Ao contrário da declaração do diretor clinico, a secretária alega que o
HR tem passado por melhorias, e com exceção de neonatologista, a
unidade dispõe de especialistas atendendo. “Neonatologista falta aqui e
em outros vários lugares do estado. Nosso neurologista pediu demissão
este mês, por problemas pessoais, mas até dia 30 de outubro ele estava
atendendo”, justifica.
O caso
De acordo com o irmão da vítima, o jardineiro Vilmar Marques, o acidente aconteceu na noite do dia 24 de outubro, na zona rural de Monte Negro. Clair estava a caminho de Ariquemes, onde morava, quando colidiu com uma caminhonete.
De acordo com o irmão da vítima, o jardineiro Vilmar Marques, o acidente aconteceu na noite do dia 24 de outubro, na zona rural de Monte Negro. Clair estava a caminho de Ariquemes, onde morava, quando colidiu com uma caminhonete.
A vítima deu entrada no HR por volta das 20h, com várias fraturas, mas
ainda consciente, segundo Vilmar. Assim que os médicos obtiveram os
resultados dos exames de raios-x, decidiram que o caso deveria ser
encaminhado para a capital, no entanto, a família alega que não
conseguiu a disponibilização de uma UTI móvel para fazer a
transferência.
“Meu irmão foi muito bem atendido no hospital, no entanto, faltaram
equipamentos importantes, como o de ressonância magnética, que poderia
ter localizado de forma rápida onde estavam as fraturas e o sangramento.
Meu irmão estava falando, mas foi se apagando, até que morreu, pois não
conseguimos uma ambulância", lembra.
Sobre a UTI móvel, a secretária de saúde explica que a Prefeitura de
Ariquemes possui apenas uma ambulância, que atualmente está quebrada.
Com isso, para casos de remoção, o município utiliza a UTI móvel do
Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). No entanto, para
utilizar o veículo, é preciso uma ordem judicial, pleiteada pela
Defensoria Pública do Estado (DPE), pois a ambulância só atua no limite
do município. Conforme o gerente de enfermagem do Samu, Igor Nascimento,
no dia do acidente de Clair a UTI móvel estava disponível, no entanto,
não foi apresentada a ordem judicial.
Conforme a secretária de saúde, a liberação da UTI móvel, através de
ordem judicial, só aconteceu por volta das 23h55, entretanto a morte da
vítima foi registrada cerca de uma hora e meia antes.
Foto: Eliete Marques/G1 |
Quando questionada se o atraso na emissão do documento ou a falta de
uma UTI da prefeitura teriam prejudicado o atendimento necessário ao
paciente, a secretária diz que a situação era irremediável. “Creio que
foi um conjunto de situações; no entanto, mesmo que a ambulância tivesse
sido liberada no horário que a família pediu, às 22h, ele teria morrido
no meio do caminho”, justifica.
Conforme a secretária, o município aguarda a doação de uma UTI móvel
por parte do estado, e se organizam para pleitear uma emenda parlamentar
para comprar outra. Enquanto isso não acontece, Regina afirma que
equipamentos para a montagem de uma UTI móvel estão sendo adquiridos.
“Estamos comprando aparelhos e vamos montar uma UTI móvel em uma de
nossas ambulâncias”, finaliza.
De acordo com o advogado da família, Marcos Mendonça, documentos estão
sendo analisados, bem como as responsabilidades dos órgãos que atenderam
Clair, para que seja decidido quem será inserido em uma futura ação
judicial.
Fonte: G1/RO