PUBLICIDADE

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Ariquemes - 'Governo do Diabo', diz irmão de governador após morte em hospital

Foto: Eliete Marques/G1
Após a morte de um paciente, o diretor clinico do Hospital Regional (HR) de Ariquemes (RO), o médico Antonio Nóbel Aires Moura, criticou a precariedade da unidade de saúde em uma rede social.  De acordo com o médico, a falta de uma equipe médica especializada, associada à falta de equipamentos, pode ter contribuído para a morte do paciente Clair Marques, de 38 anos, que sofreu um acidente no dia 24 de outubro, foi atendido no HR, mas morreu vítima de hemorragia enquanto aguardava transferência para Porto Velho. No texto publicado, o médico, que é irmão do governador Confúcio Moura, estendeu as críticas ao estado. "Quem, podendo ter filé, prefere carne de segunda, acaba tendo um Governo da Cooperação do Diabo", diz trecho da publicação, em referência ao slogan do governo do estado (Governo da Cooperação).


 
Ao G1, o médico diz ter feito a declaração na rede social por ter ficado revoltado com a situação do paciente Clair, que deveria passar por uma cirurgia de emergência para fixar o quadril, após um acidente de moto. No entanto, segundo Moura, o HR não dispôs de equipe de médicos especializados, muito menos de material, se fazendo necessária a transferência do paciente para Porto Velho.

O G1 entrou em contato com a assessoria do governador por diversas vezes desde a terça-feira (5) para comentar as declarações do irmão. No entanto, não houve retorno às solicitações.

“Este tipo de cirurgia tem que ser feita aqui em Ariquemes, pois remover uma paciente é uma situação complexa, onde o doente tem que estar estabilizado para poder viajar. Este hospital tem que ter recursos para atender os pacientes aqui, pois isso aumenta as chances de vida das pessoas. Por isso, acredito que aquilo HR nem é um hospital, e sim um posto de saúde centralizado”, enfatiza.

De acordo com o médico, a situação do HR é precária, visto que a estrutura é antiga e já passou por diversas reformas paliativas. Além disso, ressalta a falta de especialistas, como neurologista, radiologista e neonatologista. Apesar das criticas, Moura salienta que a unidade conta com bons médicos.

“Não da mais pra fazer reformas; a solução é construir um novo hospital. Precisamos dar condições de trabalho aos médicos que lá trabalham e ampliar a equipe de profissionais. As pessoas precisam saber desta situação, pois, ao sofrer um acidente, o primeiro lugar a ser levado é para o hospital público”, explica. Sobre as críticas ao governo do irmão, Confúcio Moura, o médico diz que, apesar da boa relação famíliar, eles "discordam nas decisões políticas".

Já a secretária municipal de Saúde, Regina dos Santos, explica que o paciente Clair foi atendido por uma equipe médica completa, mas que a unidade não realiza procedimentos de alta complexidade. “O hospital é de média complexidade, e temos limitações. Utilizamos todos os recursos para atender o paciente, mas o caso dele era grave e precisou ser encaminhado para a capital”, ressalta.

Ao contrário da declaração do diretor clinico, a secretária alega que o HR tem passado por melhorias, e com exceção de neonatologista, a unidade dispõe de especialistas atendendo. “Neonatologista falta aqui e em outros vários lugares do estado. Nosso neurologista pediu demissão este mês, por problemas pessoais, mas até dia 30 de outubro ele estava atendendo”, justifica.

O caso
De acordo com o irmão da vítima, o jardineiro Vilmar Marques, o acidente aconteceu na noite do dia 24 de outubro, na zona rural de Monte Negro. Clair estava a caminho de Ariquemes, onde morava, quando colidiu com uma caminhonete. 

A vítima deu entrada no HR por volta das 20h, com várias fraturas, mas ainda consciente, segundo Vilmar. Assim que os médicos obtiveram os resultados dos exames de raios-x, decidiram que o caso deveria ser encaminhado para a capital, no entanto, a família alega que não conseguiu a disponibilização de uma UTI móvel para fazer a transferência.

“Meu irmão foi muito bem atendido no hospital, no entanto, faltaram equipamentos importantes, como o de ressonância magnética, que poderia ter localizado de forma rápida onde estavam as fraturas e o sangramento. Meu irmão estava falando, mas foi se apagando, até que morreu, pois não conseguimos uma ambulância", lembra.

Sobre a UTI móvel, a secretária de saúde explica que a Prefeitura de Ariquemes possui apenas uma ambulância, que atualmente está quebrada. Com isso, para casos de remoção, o município utiliza a UTI móvel do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). No entanto, para utilizar o veículo, é preciso uma ordem judicial, pleiteada pela Defensoria Pública do Estado (DPE), pois a ambulância só atua no limite do município. Conforme o gerente de enfermagem do Samu, Igor Nascimento, no dia do acidente de Clair a UTI móvel estava disponível, no entanto, não foi apresentada a ordem judicial.

Conforme a secretária de saúde, a liberação da UTI móvel, através de ordem judicial, só aconteceu por volta das 23h55, entretanto a morte da vítima foi registrada cerca de uma hora e meia antes.

Foto: Eliete Marques/G1
Quando questionada se o atraso na emissão do documento ou a falta de uma UTI da prefeitura teriam prejudicado o atendimento necessário ao paciente, a secretária diz que a situação era irremediável. “Creio que foi um conjunto de situações; no entanto, mesmo que a ambulância tivesse sido liberada no horário que a família pediu, às 22h, ele teria morrido no meio do caminho”, justifica.

Conforme a secretária, o município aguarda a doação de uma UTI móvel por parte do estado, e se organizam para pleitear uma emenda parlamentar para comprar outra. Enquanto isso não acontece, Regina afirma que equipamentos para a montagem de uma UTI móvel estão sendo adquiridos. “Estamos comprando aparelhos e vamos montar uma UTI móvel em uma de nossas ambulâncias”, finaliza.

De acordo com o advogado da família, Marcos Mendonça, documentos estão sendo analisados, bem como as responsabilidades dos órgãos que atenderam Clair, para que seja decidido quem será inserido em uma futura ação judicial.

Fonte: G1/RO