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terça-feira, 20 de dezembro de 2011

VEJA O VÍDEO DA REPORTAGEM DO FANTÁSTICO SOBRE A CORRUPÇÃO NA ASSEMBLÉIA DE RONDÔNIA.

Gravações revelam esquema de corrupção na Assembleia de Rondônia

O presidente da Assembleia foi apontado pelos investigadores como o chefe de uma quadrilha que cobrava propina de empresários que têm contratos com o governo.

O Fantástico teve acesso exclusivo às investigações que levaram à prisão o presidente da Assembleia Legislativa de Rondônia. Além dele, foram presos empresários e servidores estaduais. Segundo a denúncia, desde 2010, o esquema desviou pelo menos R$ 12 milhões dos cofres públicos.

"Propina não é desperdício, propina é investimento", diz o empresário Miguel Saud Morheb. Ele é dono de uma firma de limpeza que presta serviços para o governo de Rondônia. Segundo uma denúncia do Ministério Público do estado, o empresário tinha participação ativa em um esquema criminoso, que foi desfeito em uma ação conjunta com a Polícia Federal.

Há exatamente um mês, 15 pessoas foram presas suspeitas de corrupção, entre elas o presidente da Assembleia Legislativa do estado, Valter Araújo, do PTB, e o secretário-adjunto de Saúde, José Batista.

O presidente da Assembleia foi apontado pelos investigadores como o chefe de uma quadrilha que cobrava propina de empresários que têm contratos com o governo. O Fantástico teve acesso exclusivo a escutas telefônicas e a vídeos que, segundo o Ministério Público, comprovam a roubalheira.

As investigações mostram que uma das empresas envolvidas no esquema, a Romar, pertenceria ao presidente da Assembleia, Valter Araújo. Em uma conversa gravada com autorização da Justiça, ele cobra um pagamento do secretário-adjunto de Saúde, José Batista.

Valter Araújo: Meu filho, deixa eu falar um negócio. Você está brincando comigo? O que é que está acontecendo, Batista?
José Batista: O que foi?
Valter Araújo: Eu liguei pro senhor ontem, pedi para você resolver o negócio do pagamento. Você disse que estava resolvido. Eu estou indo viajar para fazer meu tratamento, mando meu menino no banco agora, a menina disse que você mandou trazer de volta.
José Batista: Não. Está assinadinho! Eu deixei...
Valter Araújo: Não está, Batista! Você mandou trazer de volta.
José Batista: Não. Qual pagamento? O da Romar?
Valter Araújo: Da Romar.
José Batista: Da Romar?
Valter Araújo: É.

Pelo esquema, quem não molhasse a mão da quadrilha não recebia pelos serviços prestados.

José Batista: Dá um jeito de resolver isso que eu estou recebendo uma pressão da p. aqui.
Valter Araújo: Aguenta...
José Batista: Até o chefe me ligou aqui duas vezes hoje perguntando.
Valter Araújo: Fica tranquilo. Fala para o chefe descansar.

Em outra gravação, o empresário Júlio Bonache, do ramo de alimentação, reclama com o sócio de um pagamento retido: “Nós estamos com cinco milhões para receber, e nós não temos para quem ligar. Eu vou ligar para quem, para o cara que reza a missa?”.

Para a polícia, o "cara que reza missa" é o próprio presidente da Assembleia, Valter Araújo. Segundo as investigações, ele cobrava de propina por mês pelo menos 10% do valor de cada contrato.

“Ora seria 10% do contrato, ora seria 20% dos contratos”, disse o o procurador-geral de Justiça do MP de Rondônia, Héverton Alves de Aguiar.

Fomos atrás do empresário Júlio Bonache. Ele foi preso na operação do mês passado, mas já está em liberdade. Júlio confessou que dava dinheiro para o esquema. Segundo as investigações, ele pagou mais de R$ 2,5 milhões, entre dezembro de 2010 e abril desse ano.

“Não estou dizendo que sou santo, porque, na realidade, a partir do momento que dei dinheiro, eu corrompi”, diz Júlio Bonache.

Imagens feitas pela Polícia Federal e conseguidas com exclusividade pelo Fantástico mostram o empresário Miguel Morheb, citado no início desta reportagem. "Propina não é desperdício, propina é investimento", diz ele.

Miguel aparece entrando em um banco com Rafael Costa. Rafael é assessor do presidente da Assembleia, e, segundo o Ministério Público, era responsável por cobrar a propina dos empresários e distribuí-la. O empresário Miguel Morheb é flagrado saindo do banco com uma caixa, que, segundo a polícia, estava cheia de dinheiro.

“Havia a quantia de R$ 120 mil”, afirma o delegado de Combate ao Crime Organizado Celso Mochi, da Polícia Federal.

Depois, o assessor Rafael e o empresário Miguel se reúnem com Valter Araújo em uma caminhonete, parada em frente à Assembleia Legislativa. “Tinha uma informação prévia de que ia ser buscado o dinheiro para um repasse para membros da organização”, afirma o delegado da PF.

Um dos deputados investigados é Saulo Moreira, do PDT. As duas caminhonetes que aparecem na imagem, segundo a Polícia Federal, pertencem a Saulo e a Rafael. Para os investigadores, o vídeo mostra o exato momento do pagamento de uma propina.

“O monitoramento mostrou quanto era entregue, quando ele determinava a esse assessor: ‘precisa acertar com o deputado fulano de tal, dá tanto para ele’”, revela o procurador-geral de Justiça do MP de Rondônia, Héverton Alves de Aguiar.

Além de Saulo, outros seis deputados estaduais são suspeitos de envolvimento e foram indiciados por corrupção passiva. “Eles participavam de todo esse esquema, recebendo vantagem indevida para dar sustentação política ao presidente”, conta o procurador-geral de Justiça do MP de Rondônia, Héverton Alves de Aguiar.

Silvernani Santos, Marcos Donadon, Nathanael Silva, Carlão de Oliveira e Valter Araújo São ex-presidentes da Assembleia Legislativa de Rondônia acusados de desvio de dinheiro público. Um levantamento junto aos processos que eles respondem na Justiça revela que nos últimos 20 anos foram desviados, pelo menos, R$ 140 milhões com a participação do presidente da casa.

Os antigos presidentes envolvidos em corrupção já foram até condenados, mas continuam em liberdade. Um deles, Marcos Donadon, cumpre mandato como deputado estadual pelo PMDB.

Depois de preso, Valter Araújo foi afastado da presidência na Assembleia Legislativa de Rondônia. Mas ele também já está em liberdade. Valter se recusou a falar com a equipe do Fantástico, mas por intermédio do advogado disse que vai provar sua inocência.

“Todos os anos, o nosso estado aparece em nível nacional com essas coisas ruins, e parece que os políticos de Rondônia não aprendem. E o governo sabia muito bem disso, o Executivo. Primeiro, toda a roubalheira foi no Executivo”, lamenta José Hermínio Coelho, presidente interino da Assembleia Legislativa de Rondônia.

Segundo as investigações, a quadrilha desviava dinheiro de contratos da Secretaria de Justiça, do Detran e da Secretaria de Saúde.

O secretário-adjunto da Saúde José Batista foi exonerado e permanece preso. No quarto de hotel onde ele morava, a polícia encontrou R$ 170 mil em dinheiro.

Rômulo Lopes era assessor especial do governador de Rondônia, Confúcio Moura, e morava na residência oficial. Em uma conversa, ele é orientado pelo empresário Miguel Morheb a esconder dinheiro de propina antes de entrar em casa. “Eu trouxe o envelope, mas se quiser botar dentro da cueca é melhor”, diz Miguel Morheb na escuta telefônica.

Rômulo foi preso na casa do governador. “Todos já trabalharam comigo. Gente nossa, gente da cidade que foi cooptado pelo sistema. Não vou dizer que abusou da confiança, mas de certa forma foi abuso”, diz o governador de Rondônia, Confúcio Moura (PMDB).

Os suspeitos foram indiciados por mais de dez crimes, entre eles corrupção ativa, formação de quadrilha e lavagem de dinheiro. “Já estão em juízo 25 ações penais. Nós estamos imaginando que teremos mais de cem propostas, entre ações penais e ações civis públicas. Vimos a força política de um membro do parlamento influenciando diretamente dentro do outro poder. Lamentavelmente, nós temos mais um fato que envolve o presidente da Assembleia Legislativa do Estado de Rondônia, lamentavelmente”, diz o procurador-geral de Justiça do MP de Rondônia, Héverton Alves de Aguiar.

O deputado estadual Saulo Moreira e o empresário Miguel Moreb não quiseram falar sobre as denúncias. Os ex-assessores Rômulo Lopes e Rafael Costa permanecem presos. O advogado de Rafael disse que seu cliente só vai falar em juízo. O advogado de Rômulo também foi procurado pelo Fantástico, mas não deu retorno.
FONTE: FANTÁSTICO