Apenas 2,1% dos formados na Bolívia passaram, em 2012, no exame federal para revalidação do diploma.
Em 2010, quando era professor de medicina na Universidade Cristã da
Bolívia (Ucebol), o médico Ruben (nome fictício) recebeu a carta de um
aluno brasileiro conhecido pelo apelido de Psicopata.
Ali estava escrito que o estudante havia tentado o suicídio no passado e
que, caso Ruben o reprovasse pela terceira vez, seria o responsável
pelo que viesse a ocorrer.
A ameaça não evitou um novo fracasso, mas, no ano seguinte, para
surpresa do professor, o Psicopata estava na cerimônia de graduação.
“Não sei como se formou, mas é um perigo para quem cair em suas mãos”, disse o médico à Folha.
Cansado do baixo nível dos alunos brasileiros –a grande maioria nas
faculdades privadas da cidade– e de irregularidades, que incluem compra
de notas, Ruben abandonou a sala de aula.
Psicopata faz parte de uma verdadeira invasão de brasileiros nos cursos
de medicina bolivianos. São cerca de 25 mil alunos em instituições do
país vizinho, segundo a Embaixada da Bolívia no Brasil.
Boa parte deles vem dos Estados próximos, como Acre e Mato Grosso, mas há alunos de quase todo o país.
Esse contingente equivale a 23% dos estudantes de medicina matriculados
no Brasil no ano passado — 110.804 alunos, segundo censo do Ministério
da Educação.
O número de brasileiros estudando medicina na Bolívia é ainda 16 vezes
maior do que os colegas que cursam na Universidade de São Paulo.
Os brasileiros são atraídos para a Bolívia por dois grandes motivos: a
ausência de vestibular –basta o diploma de ensino médio para fazer a
matrícula– e o custo baixíssimo das faculdades.
Na Universidade de Aquino (Udabol), onde estudam cerca de 5.000
brasileiros, o estudante que pagar à vista desembolsará cerca de R$
10.500 por cinco anos.
Na Santa Casa de São Paulo, essa quantia não cobriria sequer três meses do curso –a mensalidade é R$ 3.940.
Graduar-se, porém, não é simples. Formalmente, o processo dura ao menos
sete anos. Inclui um ano de internato, três meses de trabalho
obrigatório e aprovação no exame de graduação, feito fora da
universidade.
Depois, está a difícil volta ao Brasil: apenas 2,1% dos formados na
Bolívia passaram, em 2012, no Revalida, exame federal para validar o
diploma de medicina estrangeiro.
“Aqui é o contrário, o vestibular fica pro final”, compara a
farmacêutica goiana Tatiane de Azevedo, 29, que no ano que vem estudará
medicina na Udabol.
Autor: Ag. Folha
Fonte: Rondonoticias