Mariane Wallau Vielmo, 25 anos, é a 242ª vítima do incêndio na Boate
Kiss de Santa Maria-RS. A jovem faleceu neste domingo (19/05) no
Hospital de Clínicas de Porto Alegre onde estava internada. Segundo a
instituição, ela morreu às 5h15 foi levado ao Instituto Médico Legal.
Mariane era estudante de Sistemas de Informação no Centro Universitário
Franciscano (Unifra) e trabalhava como coordenadora de Informática no
Colégio Franciscano Sant’Anna, ambos em Santa Maria.
A jovem Mariane acreditava na sua recuperação e até pediu que postassem na Rede Social uma mensagem: “agradeço
a todos vocês pelas forças e mensagens de compreensão no início e no
meio dessa história. Eu to bem, em breve já vou pro quarto! Sigam
enviando mensagens positivas, pois saibam que isso me faz muito bem”.
Relembre o caso
Na madrugada do dia 27 de janeiro, um incêndio deixou 242 mortos em
Santa Maria (RS). O fogo na Boate Kiss começou por volta das 2h30,
quando um integrante da banda que fazia show na festa universitária
lançou um artefato pirotécnico, que atingiu a espuma altamente
inflamável do teto da boate.
Com apenas uma porta de entrada e saída disponível, os jovens tiveram
dificuldade para deixar o local. Muitos foram pisoteados. A maioria dos
mortos foi asfixiada pela fumaça tóxica, contendo cianeto, liberada
pela queima da espuma.
Os mortos foram velados no Centro Desportivo Municipal, e a
prefeitura da cidade decretou luto oficial de 30 dias. A presidente
Dilma Rousseff interrompeu uma viagem oficial que fazia ao Chile e foi
até a cidade, onde prestou solidariedade aos parentes dos mortos.
Os feridos graves foram divididos em hospitais de Santa Maria e da
região metropolitana de Porto Alegre, para onde foram levados com apoio
de helicópteros da FAB (Força Aérea Brasileira). O Ministério da Saúde,
com apoio dos governos estadual e municipais, criou uma grande operação
de atendimento às vítimas.
Quatro pessoas foram presas temporariamente – dois sócios da boate,
Elissandro Callegaro Spohr, conhecido como Kiko, e Mauro Hoffmann, e
dois integrantes da banda Gurizada Fandangueira, Luciano Augusto Bonilha
Leão e Marcelo de Jesus dos Santos. Enquanto a Polícia Civil investiga
documentos e alvarás, a prefeitura e o Corpo de Bombeiros divergem sobre
a responsabilidade de fiscalização da casa noturna.
A tragédia fez com que várias cidades do País realizassem varreduras
em boates contra falhas de segurança, e vários estabelecimentos foram
fechados. Mais de 20 municípios do Rio Grande do Sul cancelaram a
programação de Carnaval devido ao incêndio.
No dia 25 de fevereiro, foi criada a Associação dos Pais e Familiares
de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia da Boate Kiss em Santa Maria. A
associação foi criada com o objetivo de oferecer amparo psicológico a
todas as famílias, lutar por ações de fiscalização e mudança de leis,
acompanhar o inquérito policial e não deixar a tragédia cair no
esquecimento.
Indiciamentos
Em 22 de março, a Polícia Civil indiciou criminalmente 16 pessoas e
responsabilizou outras 12 pelas mortes na Boate Kiss. Entre os
responsabilizados no âmbito administrativo, estava o prefeito de Santa
Maria, Cezar Schirmer (PMDB). A investigação policial concluiu que o
fogo teve início por volta das 3h do dia 27 de janeiro, no canto
superior esquerdo do palco (na visão dos frequentadores), por meio de
uma faísca de fogo de artifício (chuva de prata) lançada por um
integrante da banda Gurizada Fandangueira.
O inquérito também constatou que o extintor de incêndio não funcionou
no momento do início do fogo, que a Boate Kiss apresentava uma série
das irregularidades quanto aos alvarás, que o local estava superlotado e
que a espuma utilizada para isolamento acústico era inadequada e
irregular. Além disso, segundo a polícia, as grades de contenção
(guarda-corpos) existentes na boate atrapalharam e obstruíram a saída de
vítimas, a boate tinha apenas uma porta de entrada e saída e não havia
rotas adequadas e sinalizadas para a saída em casos de emergência – as
portas apresentavam unidades de passagem em número inferior ao
necessário e não havia exaustão de ar adequada, pois as janelas estavam
obstruídas.
Já no dia 2 de abril, o Ministério Público denunciou à Justiça oito
pessoas – quatro por homicídios dolosos duplamente qualificados e
tentativas de homicídio, e outras quatro por fraude e falso testemunho. A
Promotoria apontou como responsáveis diretos pelas mortes os dois
sócios da casa noturna, Mauro Hoffmann e Elissandro Spohr, o Kiko, e
dois dos integrantes da banda Gurizada Fandangueira, Marcelo de Jesus
dos Santos e Luciano Augusto Bonilha Leão.
Por fraude processual, foram denunciados o major Gerson da Rosa
Pereira, chefe do Estado Maior do 4º Comando Regional dos Bombeiros, e o
sargento Renan Severo Berleze, que atuava no 4º CRB. Por falso
testemunho, o MP denunciou o empresário Elton Cristiano Uroda, ex-sócio
da Kiss, e o contador Volmir Astor Panzer, da GP Pneus, empresa da
família de Elissando – este último não havia sido indiciado pela Polícia
Civil.
Os promotores também pediram que novas diligências fossem realizadas
para investigar mais profundamente o envolvimento de outras quatro
pessoas que haviam sido indiciadas. São elas: Miguel Caetano Passini,
secretário municipal de Mobilidade Urbana; Belloyannes Orengo Júnior,
chefe da Fiscalização da secretaria de Mobilidade Urbana; Ângela Aurelia
Callegaro, irmã de Kiko; e Marlene Teresinha Callegaro, mãe dele – as
duas fazem parte da sociedade da casa noturna.
Fonte: radioitaperunafm