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quarta-feira, 29 de agosto de 2012

MP denuncia agente penitenciária que advogava durante expediente, em RO

MP em Ariquemes (Foto: Eliete Marques/G1)
O Ministério Público (MP) de Rondônia denunciou uma agente penitenciária por peculato e falsidade ideológica em Ariquemes. Segundo o MP, Sandra Pires Correa Araújo assinava folhas de frequência no serviço público, mas advogava durante o horário em que deveria estar cumprindo expediente.

De acordo com a promotora de Justiça Joice Mota Azevedo, da 2ª Promotoria de Justiça da comarca de Ariquemes, as investigações começaram em 2009, depois que denúncias anônimas foram feitas ao MP. Sandra é servidora da Secretaria de Justiça (Sejus) de Rondônia e foi cedida para a prefeitura de Ariquemes em 2006, para trabalhar na Secretaria Municipal de Saúde (Semsau).
Conforme a conclusão da investigação do MP, composto também de depoimentos de colegas de trabalho, na Semsau Sandra não tinha mesa e computador e comparecia ao local esporadicamente. Durante o horário de expediente, Sandra praticava atos processuais inerentes de sua outra profissão, a advocacia.
Apesar disso, Sandra apresentava as folhas de frequência assinadas. “Levantamentos apontam que Sandra assinou a folha na mesma data em que acompanhava clientes e participava de audiências”, ressalta a promotora Joice.

"A Sandra foi monitorada por equipes de policiais que comprovaram que ela ficava meia hora no trabalho, saía e não voltava mais"
 
Joice Mota, promotora de Justiça
 
Em 2011, a servidora foi devolvida à Sejus. Joice acredita que este retorno foi motivado pelas investigações do MP. Sandra foi lotada na Gerência Regional do Sistema Penitenciário local, mas teria continuado a praticar a fraude. “A Sandra foi monitorada por equipes de policiais que comprovaram que ela ficava meia hora no trabalho, saía e não voltava mais. Além disso, há filmagens que confirmaram que ela praticava advocacia no mesmo horário”, afirma a promotora.
 
“Sou uma servidora idônea”
 
O G1 procurou Sandra Pires Correa Araújo na Gerência Regional. “Estou no serviço público há 26 anos e sou uma servidora séria, idônea, que presto serviço à comunidade e que prezo pelos princípios da administração pública”, garante a servidora pública.
Sandra conta que tomou conhecimento da denúncia através da imprensa e que ficou surpresa. “Não fui comunicada oficialmente da denúncia, estou trabalhando normalmente e cumprindo com a minha carga horária”, afirma.
Quanto a prática de atos processuais, Sandra alega que quando havia audiências no mesmo horário do trabalho público, ela fazia compensação de horas. “Quero esclarecer toda essa situação no momento oportuno”, diz.
 
Outros denunciados
 
O MP também denunciou por peculato e falsidade ideológica, o ex-secretário municipal de saúde Carlos Alberto Caieiro e o gerente regional do sistema penitenciário em Ariquemes Carlos Renato Romano Lopes, ex e atual chefe imediato de Sandra, por conivência com os crimes.
Em entrevista ao G1, Caieiro explicou que as folhas de frequências dos servidores passavam pelos Recursos Humanos (RH) da Semsau e da prefeitura. “Só depois as folhas chegavam até mim, para assinar e encaminhar para o pagamento”, diz.
No entanto, Caieiro afirma que Sandra desenvolvia as atividades da função na Semsau e que na ocasião, nenhuma denúncia sobre funcionária “fantasma” chegou até ele.
O G1 também procurou o gerente regional do sistema penitenciário em Ariquemes, Carlos Renato Romano Lopes, mas foi informado que ele estava em viagem.
As promotoras responsáveis pelo caso (Foto: Eliete Marques/G1) 
As promotoras responsáveis pelo caso
(Foto: Eliete Marques/G1)
 
Julgamento das ações

Na ação penal, a promotora Joice Mota Azevedo pede o afastamento cautelar do cargo de agente penitenciário de Sandra e pedido final de condenação de falsidade ideológica e peculato.
Na ação de improbidade administrativa, a promotora de Justiça Priscila Matzenbacher Tibes Machado pede liminarmente o afastamento do cargo de agente penitenciária, a indisponibilidade de bens para garantir multas e comunicação aos juízos da comarca quanto ao impedimento de praticar a advocacia.
Priscila Matzenbacher explica que o estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) veda a prática da advocacia para agentes penitenciários. A restrição visa coibir corrupção e barganha de clientelas.
SejusSegundo o corregedor Patrick Robertson de Carvalho, em 14 de fevereiro de 2012, o secretário da Secretaria de Estado de Justiça de Rondônia (Sejus) solicitou abertura de processo de sindicância para apurar as denúncias. Nesta terça-feira (28) o relator indicou a instauração de procedimento administrativo disciplinar à servidora Sandra Pires Correa Araújo e ao gerente regional do sistema penitenciário em Ariquemes, Carlos Renato Romano Lopes.
O processo de sindicância será encaminhado ao secretário nesta quarta-feira (29) quando ele deverá emitir posicionamento quanto ao envio para a abertura de processo administrativo disciplinar.
O secretário da Sejus, Fernando Antônio Oliveira, afirmou ao G1 que deverá se posicionar favorável ao parecer do relator do processo de sindicância. "A tendência é acatar o parecer sugerido pelo sindicante, pela corregedoria", explicou o secretário.

G1-RO